Thursday, March 27, 2008

FREUD e o CÓDIGO DA VINCI



Aqui vai o resumo de um artigo sobre Freud e Da Vinci publicado há uns tempos no Expresso. Tem menos texto mas ficam a ganhar. Aqui podem ver duas fotos e quando foi editado no Actual só arranjaram espaço para uma

“Escrever sobre o abutre parece fazer parte do meu destino, pois que, entre as primeiras recordações que guardo de criança, está a imagem de uma dessas aves ter vindo ao meu berço, abrir a minha boca com a sua cauda e bater repetidamente com ela no interior dos meus lábios”.
Esta obscura frase foi escrita por Leonardo da Vinci como nota à margem de uma página de um dos seus famosos códigos, numa parte dedicada ao vôo dos pássaros.
No dia em que Sigmund Freud leu aquelas palavras ficou fascinado.
Era como se Leonardo estivesse na consulta de psicanálise e lhe falasse de viva voz. E tudo batia certo com a sua ideia de sublimação dos instintos, ficando explicados alguns traços da personalidade do grande mestre e a sua eventual homossexualidade.
O interesse de Freud levou-o a publicar um trabalho de umas dezenas de páginas, agora célebre, intitulado “Uma recordação infantil de Leonardo da Vinci”. E um aluno seu, entusiasmado com as deduções do mestre fez uma descoberta que parecia vir confirmar tudo o que ele dissera. De visita ao Louvre, ao admirar o quadro de Leonardo chamado “Santa Ana, a Virgem e o Menino” distinguiu nitidamente que o manto que envolvia a Virgem era afinal o desenho de um abutre, cuja cauda aflorava os lábios do menino!
Quem sou eu para me pronunciar sobre a teoria da sublimação de Sigmund Freud?
Só posso dizer que a admiro e aceito como boa. Mas no caso de Leonardo, ainda que a teoria lhe possa eventualmente ser aplicada, caiu pela base a história do abutre. É que no texto que Freud leu, tradução em língua alemã do original, o nome do pássaro a que Leonardo se referia estava mal traduzido: não era um abutre mas sim um milhafre. E lá se foi por água abaixo a semelhança com a deusa Mut, e a fecundação “in vento”.
Ou seja ainda que a teoria de Freud sobre a sublimação do instinto sexual seja correcta e possa ser virtualmente aplicada ao genial da Vinci, tudo o resto não passou de especulação. Brilhante, mas especulação.
Não consta que “Uma recordação infantil de Leonardo da Vinci” tenha sido um grande êxito editorial. Mas se algum mega autor se lembra do tema lá vamos ter as livrarias inundadas de Códigos do Abutre, Conspirações do Milhafre e outros títulos semelhantes.

Rodando o quadro para a direita vê-se o que seria um abutre com a cabeça em cima e o rabo junto à
boca do menino!


Saturday, March 22, 2008

ARTE EFÉMERA



A curta viagem que fiz ao Brasil de 6 a 9 de Março convidado pelo Presidente da República para integrar a comitiva cultural que o acompanhou nas comemorações da chegada da corte portuguesa ao Brasil, inspirou-me o post de hoje com base num artigo que publiquei no Expresso, há meses.

Mais uma vez sobre azulejos! Mas também sobre Brasil e arte efémera.

Eis um resumo do texto:

“Finalmente, se adoptarmos o conceito de arte em sentido lato vamos ainda encontrar uma outra arte efémera: a arte de fachada, para consumo rápido, que num determinado momento serve o poder – de uma pessoa, de uma instituição ou de um partido político - para no dia seguinte deixar de servir e ser destruída.
Os espalhafatosos casamentos que periodicamente algum grande magnate oferece ao público para deleite deste e da comunicação social, podem ser arte efémera. Assim como os carros alegóricos que desfilam pelas ruas em certas datas festivas. E a própria feijoada que há uns anos decorreu na ponte Vasco da Gama, não terá sido uma “instalação”, também efémera, porque comestível?
*
Vaidade, ilusão e utopia. Tudo isso também houve num autêntico festival de arte efémera que decorreu na cidade de Lisboa em Fevereiro de 1729 por altura do casamento de D. José com a princesa espanhola Maria Vitória de Bourbon.”

“Que ficou de tanto esplendor?
Podia concluir-se filosoficamente que tudo é efémero. A ponte, onde a princesa desembarcara e o tempo se suspendera às ordens da Fortuna, foi destruída logo nessa mesma noite por um fortíssimo temporal que se levantou no Tejo. Do resto nada ficou … em Portugal.



(O arco dos Confeiteiros)




As paredes do claustro do convento da Ordem Terceira de S. Francisco, em S. Salvador da Baía no Brasil, estão cobertas por painéis de azulejos representando a chegada da princesa Maria Vitória a Belém e o cortejo atravessando uma Lisboa meio fantasiada mas onde se pode ainda apreciar o esplendor da arte efémera joanina.Afinal tudo se transforma e o que em Lisboa foi efémero “virou” perene no Brasil.”