Tuesday, December 11, 2007

A Marquesa de Távora em Azulejos?







É obviamente uma especulação. Mas talvez achem graça ao que escrevi sobre o assunto com base nos painéis que perteram ao Palácio Galveias (ex- Távora):




"Voltemos agora ao palácio antigo que os Galveias sempre mantiveram no Alentejo. Estão os jardins decorados com vários painéis de azulejos e todos merecem o interesse dos apreciadores. Mas há três em particular que chamam necessariamente a atenção não só pela boa arte mas sobretudo pela sua originalidade. No centro de cada um deles, uma figura feminina de grande beleza e distinção, com os traços fisionómicos reproduzidos com uma tal fidelidade, que permite concluir tratar-se sempre da mesma pessoa. E mais do que isso, atrevo-me a pensar que se está perante retratos da própria marquesa de Távora. Alvitre arriscado, especulação, dirá o leitor.
Vamos à argumentação. Em primeiro lugar os painéis estavam originalmente no palácio do Campo Pequeno. Não querendo separar-se dos lindos azulejos setecentistas quando vendeu a propriedade de Lisboa, a família Galveias arrancou-os cuidadosamente recolocando-os nos jardins da casa alentejana.
Por seu lado o estilo sugere-nos uma datação dos meados do século XVIII altura em que os Távoras voltaram da Índia.
Vão os leitores comparando o retrato miniatura que nestas páginas se reproduz com a figura dos azulejos: o nariz, a testa, os olhos, os cabelos anelados caindo sobre os ombros, tudo se assemelha. E a mesma altivez, quase arrogante, temperada por uma grande beleza.
E digam-me, finalmente, se não são aqueles painéis um desagravo ao desprezo que lhes votou o rei D. José? Trata-se sem dúvida da exaltação da família e dos seus feitos, a contrapor-se ao silêncio a que os queriam remeter. Lá vemos uma alegoria à defesa de Goa, com a marquesa sentada sobre uma peça de artilharia e segurando na mão uma granada a que um pequeno anjo acaba de pegar fogo. No outro painel exalta-se a sua viagem pelos Oceanos, surgindo ela com o tridente de Neptuno a cavalgar um golfinho, animal que também surge representado no brasão dos Távoras.
Temos por fim o painel em que D. Leonor, num trono de nuvens, afaga um pavão, que sugere beleza e até vaidade, mas que é acima de tudo símbolo da imortalidade.
Pobre marquesa. Conseguiu que o seu nome continuasse a ser falado, como ainda agora acabámos de fazer, mas a eternidade chegou para ela mais cedo do que esperava, quando a lâmina do carrasco lhe separou a cabeça dos belos ombros que apreciamos nos retratos.
Tinham-lhe ensinado na Índia que o “13” era favorável e decidiu enfeitar a cara com moscas representando esse número. Acabou por lhe ser fatal."




2 comments:

molynce said...

Vim parar a este seu post mais antigo o que foi muito interessante pois finalmente vi novas imagens de uns painéis de azulejos lindíssimos, que conheci e fotografei à uns anos atrás.
A sua especulação é muito curiosa pois o desenho das figuras revela-se muito cuidado, fugindo à habitual esquematização dos retratos nos azulejos. No entanto a composição iconográfica corresponde às regras de representação das personificações dos Quatro Elementos,ou seja, cada uma das três figuras (a quarta?)é representada com os atributos relativos aos três elementos respectivos: AR, ÁGUA e FOGO. Toda a composição, incluindo figuras secundárias, paisagens e adereços ajudam a compôr cada um dos Elementos, conforme ditavam os manuais de gravuras e as regras iconográficas da época, a partir da tradição veiculada em especial por Cesare Ripa por toda a Europa, desde o séc.XVI. Nestas figuras em particular parece ter havido um tratamento individualizado de qualidade,o que as diferencia das habituais representações em azulejo. Já agora estou em http://marialynce.wordpress.com/

Angelica said...

Eu realmente gosto desta telha, eu acho que a mulher transmite algo especial com seus olhos e seu cabelos ondulados. Gostaria de saber onde é o seu design. obrigado