Monday, November 12, 2007

O TRIUNFO DO PORCO




O artigo cujos extractos aqui publico foi escrito perto das eleições autarquicas de 2005 (6?), e era dedicado a alguns dos candidatos que, obviamente, ganharam!


“E o colesterol?” perguntam alguns.
Se pudesse falar, o porco responderia que ninguém nos manda cometer excessos, sobretudo quando já não temos idade para isso. Mas diria mais, que do seu pâncreas vem a insulina que ajuda os diabéticos a viver, do seu fígado vêm as células que ajudam a purificar o sangue daqueles que têm a vida presa de um transplante, da sua pele os tecidos que ajudam a recuperar os que foram atingidos pelo fogo, do seu coração as válvulas que permitem a outros corações continuar a bater. Isto é verdade porque sob muitos aspectos fisiológicos o homem é muito parecido com o porco. Diz um ditado que se “queres conhecer o teu corpo, abre e desmancha o teu porco”.
O porco vive para comer - diz-se com desdém. Muitos de nós também, digo eu. Além de que ele, tal como nós, come de tudo: carne, peixe, fruta, legumes ou cereais. Numa palavra, é omnívoro. Só que come para morrer, ou melhor, para ser morto. E aí vem o pior da história. Querem os comunitários ditadores que morra de forma industrial, ascética, inodora e insonora. E nunca mais daquela forma ritual, solidária e familiar, que são os humildes atributos da tradicional matança.
Coitado do porco.
Só a cultura, tanto a erudita como a popular (a autêntica, não a pimba, naturalmente) lhe dá o devido valor.


... ...

É o merecido, legítimo e reconfortante triunfo do porco.
Não o passageiro triunfo dos vaidosos e hipócritas suínos com que Orwell pôs a nu a ingenuidade de Marx e dos seus utópicos companheiros.
Nem tão pouco - ambivalências da política - os possíveis e lamentáveis triunfos a que, em alguns casos, vamos assistir nestes próximos dias.

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